'Bala na cara': ação contra deputados do PL cita ameaça em venda de emendas

A ação aberta anteontem pelo STF contra três deputados do PL, por suspeita de venda de emendas parlamentares, aponta que o grupo tentou intimidar um prefeito e um lobista ligados ao caso.

O que aconteceu

Três deputados federais do PL se tornaram réus no Supremo por acusação de corrupção. Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE) foram acusados pela Procuradoria-geral da República, em agosto do ano passado, de cobrar R$ 1,67 milhão em propinas do prefeito de São José de Ribamar (MA) em troca da liberação de emendas ao município.

PGR cita tentativas de intimidação. O prefeito José Eudes Sampaio Nunes (Avante) foi abordado, segundo a investigação, pelo menos três vezes por um agiota ligado ao deputado Maranhãozinho, de janeiro a agosto de 2020. O agiota, que foi assassinado em junho do ano passado, chegou a ir à casa do prefeito acompanhado de dois comparsas que já foram presos por tortura e homicídio, segundo a denúncia.

Deputados liberaram R$ 6,67 milhões em emendas a São José de Ribamar. O dinheiro foi repassado de dezembro de 2019 a abril de 2020 para despesas de saúde do município. A denúncia aponta que os deputados cobraram um "retorno" de 25% pelas emendas (R$ 1,67 milhão), mas o prefeito teria se recusado a pagar. Em novembro de 2020, após quase um ano de pressão, ele denunciou o caso à Polícia Federal, que abriu a investigação

Maior parte das emendas foi de deputado de fora do Maranhão. Dos R$ 6,67 milhões enviados a São José de Ribamar, R$ 4,12 milhões (mais de 60%) foram de Bosco Costa, que é do Sergipe. O restante partiu de Maranhãozinho (R$ 1,50 milhão) e Pastor Gil (R$ 1,04 milhão).

Agiota era o empresário Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como "Pacovan". A denúncia aponta que ele falava com frequência com os deputados e dava sugestões sobre quais municípios deveriam receber mais emendas. Quando passou a abordar o prefeito, atualizava Maranhãozinho e Pastor Gil sobre as cobranças.

As defesas dos acusados negam a cobrança de propina. O UOL pediu à defesa de Maranhãozinho um comentário sobre a denúncia da PGR, que cita as evidências de intimidação ao prefeito, mas os advogados afirmaram que não vão se posicionar.

Bom dia, Josimar, tudo bom meu filho? Deixa eu te falar, ontem eu fui atrás do homem lá do Ribamar [o prefeito]. Tentei falar com ele. Ele disse que só senta se for contigo. Entendeu? Ele só paga se for pra você. Ele só resolve as coisas com você. E que ele não tem negócio comigo. Aí foi um "para pra acertar" danado, e tal. Uma confusão grande e eu tô vendo que isso vai dar merda. E eu não posso perder, entendeu? Que é 6 milhão [em emendas]. Vai dar um milhão e meio [em propina]
Áudio do agiota Pacovan para o deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA), em 9 de junho de 2020

Agiota falou em 'bala na cara' de lobista

O processo mostra que Pacovan teve atritos durante a cobrança de propina. Em 29 e 30 de janeiro de 2020, o agiota falou a Maranhãozinho sobre um homem identificado como "Ebenézer", que seria lobista de um senador. Segundo Pacovan, este lobista estava reivindicando para si o direito às propinas que seriam pagas em troca das emendas.

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Segundo o agiota, "já estava tudo armado" para que as propinas fossem pagas a esse lobista. Nos áudios enviados ao deputado, Pacovan disse que pretendia falar com o prefeito e o secretário de Saúde para "esclarecer" que eles deveriam receber a propina, e que o lobista iria "pegar uma bala na cara" se insistisse na cobrança.

O problema não está sendo em valor, o problema é um lobista que apareceu dizendo que os três valores é dele [sic]. Nós temos que desmascarar ele. Já estava tudo armado para pagar para ele. Temos que esclarecer com o prefeito e o secretário
Áudio de Pacovan a Josimar Maranhãozinho (PL-MA) em 29 de janeiro de 2020

Esse daí é o telefone do prefeito e do secretário de Saúde. Porque eu quero desmascarar, esse cara que tá dizendo que é dele [o direito às propinas]. Ele vai pegar uma bala na cara. Esse vagabundo. Eu fiquei ontem até meia-noite lá com o prefeito. Lá no Ribamar. Entendeu? Esse cabra que eu te falei. Ele tá dizendo que é dele. Que é de um senador. Que é de que não sei quem
Áudio de Pacovan a Josimar Maranhãozinho (PL-MA) em 30 de janeiro de 2020

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